À espera de um vinho sem pressa, sentada na pedra da mãe

PEDRA DA MÃE 2021 | VINHO TINTO REGIONAL ALENTEJANO

Após 13 anos de cultivo, um tinto alentejano ensina-nos a esperar pelo momento certo. O vinho Pedra da Mãe conta uma história de experiências, teimosia, respeito pela terra — e muita paciência.

Um vinho não se apressa. Que o diga Madalena Vidigal, a produtora, viticultora e especialista em enoturismo que plantou as primeiras sementes deste projecto em 2013, e só agora, quase 13 anos depois, pode partilhar os seus frutos.

O Pedra da Mãe — vinho tinto regional alentejano feito em parceria com a Sociedade Agrícola de Perescuma — foi lançado esta segunda-feira, 22 de Setembro, num evento em Lisboa. É um vinho sem pressa. Mas não é um alentejano como os outros.

Madalena Vidigal

O Alentejo sempre no horizonte

O Pedra da Mãe é um projeto de vinhos de família, mas não de herança. Somos de Lisboa e o Alentejo sempre teve um lugar especial no nosso coração, assim que a ideia de materializar esta paixão num vinho, surgiu de forma muito orgânica.

Madalena, licenciada em gestão hoteleira, na altura com 27 anos e responsável pelo catering num hotel em Cascais, aceita o desafio dos pais e troca os saltos altos e as folhas de excel pelas galochas e a luz do sol. “Inscrevi-me logo numa pós-graduação em Viticultura, na Universidade de Évora. Mas foi depois, no campo, com a equipa que trabalhava na quinta e os vizinhos da terra — o senhor João, o Roberto, a dona Delfina — que aprendi tudo o que hoje sei sobre a minha vinha. Ganhei um carinho e um respeito imenso pela terra.”

Não herdámos uma vinha, o projeto não vem de longas gerações – começou connosco. É nas nossas mãos que nasce e será por nós que a sua história será escrita, passo a passo, vindima a vindima.

A pedra, a oliveira e a mãe 

Tanto a mãe como, seguramente, a pedra já cá estavam antes de o primeiro rebento da vinha nascer. Junto ao muro da quinta, à sombra das oliveiras, repousa um grande pedregulho de granito cinzento e amarelo, com um formato peculiar, a lembrar uma soca de madeira.

É nessa pedra — a Pedra da Mãe —, debaixo dessa oliveira, que a mãe de Madalena se senta, ao final do dia, a ver a vinha crescer e dar uvas todos os anos. Não há pressa. Nem a pedra, nem a oliveira vão sair daquele lugar tão cedo.

Touriga Nacional, Touriga Franca e Sousão — três hectares de frescura e longevidade 

Plantada em Évora, a vinha ocupa 3 hectares com Touriga Nacional, Touriga Franca e Sousão, castas pouco avistadas em terras do Sul, que vêm trazer um perfil mais fresco, frutado, com mais acidez e potencial de envelhecimento.

As vindimas foram-se sucedendo e, com elas, algumas experiências. Uma barrica em 2015, outra em 2016, 2017 e 2019 (em 2018 e 2020, a falta de sanidade das uvas não permitiu vinificar). Vinhos surpreendentemente frutados e com corpo — mas surpreendentemente leves ao mesmo tempo. Ainda não era desta.

Finalmente, veio 2021: o ano vitícola em que tudo foi favorável à produção de uvas com qualidade. Para Madalena, era agora ou nunca. O vinho produzido naquele ano iria para as prateleiras.

Foi nesse momento que surgiu a parceria com a Sociedade Agrícola da Perescuma, na Vendinha. O Pedra da Mãe 2021 é, assim, uma co-produção de Madalena Vidigal com os enólogos Joana Silva Lopes e Diogo Grilo.

O salto para o vinho biológico

2021 foi também o ano em que Madalena e a família começaram a converter a vinha em Modo de Produção Biológico. Se desde o primeiro dia respeitaram a biodiversidade da quinta — onde repousam antigas oliveiras, zambujeiros ou figueiras, e crescem cada vez mais medronhos, romãs, pêras e marmelos junto ao poço —, só em 2025 completaram o processo de conversão. Os vinhos nascidos a partir deste ano terão uvas com certificação 100% biológicas.

“A primeira sensação que o Pedra da Mãe  2021 transmite, é seriedade e imponência. É um vinho marcante, mostra o poder das castas durienses nesta  vinha tão particular, em solo Alentejano. No aroma notas especiadas, esteva, e posteriormente a fruta. O Sousão impõem se, mas a Touriga Nacional e Franca dão-lhe o equilíbrio e a complexidade aromática. Na prova, destaque  para a frescura e tensão que transmite. 

Exige tempo. Tempo depois de abrir, tempo para saborear ou tempo para continuar a repousar em garrafa. Aliás, só poderá melhorar com o tempo. 

Também exige mesa! É um vinho cheio de personalidade, diria até com alguma irreverência.” – diz a enóloga Joana Silva Lopes que acompanha o projecto de perto há 4 anos.

Duas mil garrafas para dar vida a um mercado saturado

Num mercado cansado de tanto tinto e perante de um futuro incerto, Madalena sorri: “Lançar este vinho foi, mais do que um ato de paixão, uma missão. Sempre quisemos dignificar as uvas que a nossa vinha nos dá! Se cuidar dela exige tempo, dedicação e atenção, o mínimo que podemos desejar é que o vinho seja um justo representante desse esforço. Quisemos provar que é possível existir num mercado saturado quando se tem algo realmente diferente para mostrar. E quando se acredita com tanta certeza como nós acreditamos, não é o passar dos anos que nos demove”

Um vinho de Outono

Vindima manual feita a 6 de Setembro, num field blend de castas vindimadas no mesmo dia. Uvas pisadas a pé num lagar de inox (pela Madalena e os seus pais!). 

Pela quantidade reduzida de uva colhida, o mosto passou directamente para barricas de carvalho francês muito usadas, onde terminaram a fermentação e permaneceram até ao seu engarrafamento em Janeiro de 2024. Foram produzidas 2000 garrafas de 0,75 litros.

O rótulo é serigrafado a branco e desenhado pela agência Another Collective, do Porto. O lacre, aplicado à mão no Verão de 2025, é em verde-azeitona, pois a pedra sem a oliveira que lhe dá sombra não seria a mesma.

O Pedra da Mãe tinto é um vinho de Outono, pois tem a leveza, a fruta e a frescura para beber num fim de tarde ameno, assim como corpo e intensidade que aconchega nos dias em que o frio marca presença.

Sobre a Madalena Vidigal

Licenciada em Direção e Gestão Hoteleira e pós-graduada em Marketing Digital, em Viticultura e em Enoturismo. Este último curso foi decisivo para o seu percurso no mundo do vinho.

Apaixonada por viagens, vinhos e boas histórias, criou o Entre Vinhas, o primeiro site em Portugal inteiramente dedicado ao enoturismo. Em 2025, Entre Vinhas recebeu o Prémio AHRESP na categoria Turismo nos Media.

Na última década, Madalena tem percorrido o mundo em busca das melhores práticas de enoturismo: da Austrália a Napa Valley, passando pelo Chile, Bordéus, Grécia, Tokaji, Jerez, Rioja… e claro, Portugal de norte a sul.

É formadora independente e consultora em enoturismo, apoiando produtores e projectos turísticos a criar negócios rentáveis, sustentáveis e com personalidade, assim como a diferenciar as suas marcas.

Em 2021, lançou o podcast 5 Minutos de Vinho, onde descomplica a linguagem do vinho, um episódio de cada vez. Já vai na sexta temporada, com mais de 115 episódios.

Site: www.pedradamae.com

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